Poucas fases da vida exigem tantos cuidados quanto o período que envolve a gestação e os dois primeiros anos de um bebê. Chamado de “os primeiros 1000 dias”, esse intervalo que começa na concepção e vai até o segundo ano de vida da criança é decisivo para o desenvolvimento físico, cognitivo e emocional — e a saúde da mãe nesse processo é parte essencial dessa equação.
Estudos da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) mostram que os cuidados nos primeiros mil dias influenciam diretamente o risco de desenvolver doenças crônicas, como obesidade, diabetes e até problemas de aprendizagem. Já para as mães, o suporte físico e emocional no pré e pós-parto pode prevenir quadros de depressão, ansiedade e esgotamento.
No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, cerca de 25% das mulheres desenvolvem sintomas de depressão pós-parto — um número que poderia ser reduzido com políticas públicas e iniciativas mais efetivas de acompanhamento psicológico, acolhimento e orientação. Isso inclui desde a humanização do parto até o estímulo à amamentação com redes de apoio.
A alimentação também é um ponto-chave. Pesquisas apontam que os hábitos alimentares da mãe durante a gestação interferem diretamente no desenvolvimento do paladar e da microbiota intestinal do bebê. E após o nascimento, a amamentação exclusiva até os seis meses é recomendada pela OMS, pois reduz em até 13% a mortalidade infantil por causas evitáveis.
Mas além dos números, há o lado humano da experiência. “Meu bebê nasceu prematuro, e precisei aprender a lidar com o medo, com a culpa e com a força que eu nem sabia que tinha”, conta Camila Andrade, mãe de Davi, hoje com 2 anos. Casos como o dela ilustram como cada vivência materna é única, e por isso o suporte deve ser individualizado e contínuo.
Nesse contexto, cresce o número de doulas, grupos de mães, terapeutas especializados em puerpério e consultoras de amamentação — profissionais que têm mudado a forma como gestantes e puérperas enfrentam essa fase. A tecnologia também tem sido aliada, com aplicativos que monitoram a saúde do bebê e da mãe, além de cursos online sobre primeiros cuidados.
Para os recém-nascidos, o toque, o vínculo e o ambiente seguro são tão importantes quanto as vacinas e consultas médicas. O contato pele a pele, por exemplo, é cientificamente comprovado como fator que fortalece o sistema imunológico e o vínculo afetivo. Já a presença ativa dos pais (e não só da mãe) tem sido estimulada por campanhas de paternidade responsável.
Falar de bem-estar neonatal é falar de um futuro mais saudável. Quando uma mãe é bem cuidada, um bebê se desenvolve melhor. Quando um bebê tem amor, afeto e segurança, ele cresce mais forte. E quando a sociedade entende essa lógica, ela também floresce.
O cuidado começa muito antes do nascimento e se estende por toda a vida. Mas nos primeiros 1000 dias, ele tem o poder de transformar tudo.