Em meio a recordes de temperatura, desastres ambientais e um noticiário constantemente alarmante, cresce um fenômeno silencioso, mas cada vez mais presente: a ecoansiedade. O termo, ainda recente no vocabulário popular, descreve o estado de angústia, medo e impotência diante das mudanças climáticas e da degradação ambiental que estamos vivendo.
Pesquisas apontam que o sentimento de ansiedade relacionado ao futuro do planeta já afeta milhões de pessoas em todo o mundo — especialmente os mais jovens. Segundo um estudo publicado na revista The Lancet com mais de 10 mil pessoas em 10 países, 59% dos entrevistados se disseram “muito” ou “extremamente” preocupados com as mudanças climáticas, enquanto 45% relataram que essas preocupações afetam negativamente sua vida diária.
No Brasil, o tema começa a ganhar visibilidade. As enchentes no Sul, as secas prolongadas no Nordeste e o aumento dos alertas de desastres ambientais em áreas urbanas estão deixando marcas não apenas no meio ambiente, mas também na saúde emocional das populações atingidas. O sentimento de impotência diante da crise climática se mistura à indignação com a falta de políticas efetivas, formando um cenário propício à ansiedade crônica.
De acordo com psicólogos, a ecoansiedade não é uma doença mental em si, mas pode desencadear quadros de estresse, insônia, irritabilidade, depressão e sensação de paralisia. “É uma resposta emocional real e compreensível diante da ameaça existencial que o colapso climático representa”, afirma a psicóloga Ana Flávia Capelari, especialista em saúde mental e meio ambiente.
Apesar dos impactos, falar sobre ecoansiedade ainda é um tabu. Muitas pessoas sentem vergonha de admitir esse tipo de angústia, temendo serem vistas como “exageradas” ou “catastrofistas”. No entanto, reconhecer essas emoções é o primeiro passo para lidar com elas de forma saudável e construtiva.
Entre as estratégias para enfrentar a ecoansiedade está o engajamento em ações práticas. Participar de grupos que promovem a sustentabilidade, reduzir o consumo de plástico, optar por alimentação mais consciente e até cultivar plantas em casa são atitudes que ajudam a restaurar a sensação de controle e propósito.
Outra recomendação é limitar a exposição a conteúdos negativos de forma constante. Estar informado é importante, mas bombardeios contínuos de más notícias podem intensificar o sentimento de desesperança. Estabelecer momentos de pausa digital e buscar fontes de informação que também apontem soluções e avanços pode ser um alívio.
A conexão com a natureza também é uma aliada poderosa. Estudos mostram que passar tempo ao ar livre, fazer trilhas, caminhar em áreas verdes ou simplesmente cuidar de um jardim melhora significativamente o humor e reduz níveis de cortisol — o hormônio do estresse.
Para profissionais da saúde mental, é essencial incluir o debate sobre ecoansiedade nas consultas e rodas de conversa, especialmente com jovens e crianças, que demonstram cada vez mais sensibilidade à pauta ambiental. A escuta ativa, combinada a práticas de acolhimento e educação socioambiental, pode transformar esse medo em força mobilizadora.
Falar sobre ecoansiedade é urgente. Não se trata de alarmismo, mas de reconhecer que o bem-estar emocional está profundamente ligado ao meio em que vivemos. Cuidar da saúde mental e do planeta são, mais do que nunca, duas faces da mesma moeda.