A cena corporativa está mudando. Se antes o rendimento era medido apenas por produtividade, hoje empresas estão cada vez mais comprometidas com a saúde mental dos seus colaboradores. E não é por acaso: dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que a depressão e os transtornos de ansiedade custam à economia global cerca de US$ 1 trilhão por ano em perda de produtividade. No Brasil, uma em cada três pessoas apresenta sintomas de transtornos mentais, segundo a Fiocruz (2023).
A pressão por resultados, metas inalcançáveis e jornadas exaustivas se tornaram, por muito tempo, a realidade silenciosa de muitos profissionais. Mas o aumento de licenças por burnout e o impacto direto na performance fizeram com que muitas organizações finalmente abrissem os olhos. De acordo com um levantamento da Talenses Group (2024), 78% dos profissionais entrevistados disseram que saúde mental é fator decisivo para permanecer em uma empresa.
Grandes empresas, como Nubank e Natura, já implantaram políticas de bem-estar que vão desde horários flexíveis até apoio psicológico gratuito. Startups e pequenas empresas também começam a entender que cuidar de quem cuida do negócio é mais do que responsabilidade social: é estratégia. O RH ganha papel central nesse movimento, com programas que incluem meditação, rodas de conversa e ações de escuta ativa.
“Nosso time só performa bem quando está emocionalmente saudável. Incentivamos pausas conscientes e temos uma terapeuta disponível duas vezes por semana”, relata Carla Mendes, gestora de talentos de uma empresa de tecnologia em São Paulo. Iniciativas assim têm sido bem recebidas: uma pesquisa da consultoria Robert Half revelou que 62% dos colaboradores se sentem mais motivados em empresas que valorizam o equilíbrio emocional.
Mas o cuidado não parte só das empresas. Cada vez mais, profissionais buscam autocuidado como parte da rotina: investir em sono de qualidade, alimentação balanceada e até suplementação natural para ansiedade leve (como magnésio, triptofano e vitaminas do complexo B). E nesse ponto, a informação é a principal aliada: entender sinais de estresse, esgotamento e tristeza persistente é o primeiro passo para o cuidado.
A boa notícia é que o estigma está diminuindo. Falar sobre saúde mental virou pauta nas redes sociais, nos podcasts e nas rodas de amigos. Se antes “ter um terapeuta” era tabu, hoje é quase um sinônimo de autoconsciência. E isso ajuda a construir um ambiente onde vulnerabilidade não é fraqueza, mas humanidade.
Para quem busca transformar o ambiente corporativo num espaço mais saudável, o segredo está na escuta. Não basta criar um canal anônimo: é preciso cultivar confiança. Saber reconhecer quando um colega está sobrecarregado, oferecer ajuda sem julgamento e criar políticas reais de apoio faz toda a diferença.
Empresas que cuidam da saúde mental ganham mais do que colaboradores felizes: constroem times engajados, resilientes e criativos. Num mundo onde o emocional tem tanto peso quanto o técnico, esse cuidado se tornou essencial — e urgente.
“Não é só sobre trabalho. É sobre gente.” — diz um manifesto interno de uma empresa que reduziu em 40% o turnover após investir em bem-estar.